A Biodiversidade na crise

Tradicionalmente, em tempos de crise económica, alguns assuntos, cuja importância básica não deveria desaparecer, baixam em consideração, quer por decisores quer pelo público em geral. De modo automático, são desligados da gestão das “urgências” que apenas fica sensível aos eternos chavões economicistas do emprego/desemprego, dos salários e do folclórico apelo ao aperto do cinto (nunca vindo ordem posterior a dizer que já se pode alargar).

São absolutamente renegados princípios antes considerados fundamentais, ao nível do desenvolvimento, crescimento económico e sustentabilidade. Quem se atreve a falar de ambiente, da necessidade de reforçar a eficiência da gestão dos recursos naturais ou mesmo da salvaguarda da biodiversidade quando, as pessoas estão na rua a exigir emprego, melhores salários e estabilidade social?

Por muito que o discurso o considere, na prática, a frieza dos orçamentos e a retracção dos projectos, programas e acções no domínio da conservação da natureza e biodiversidade são evidências pragmáticas de que estas são áreas onde a “tesoura” passa primeiro. A natureza não reclama, não exige nem faz manifestações…

No entanto, precisamente em tempos de crise, há que olhar para a sustentabilidade a médio e longo prazo e verificar se já não estaremos a deixar de lado alguns aspectos que posteriormente nos limitarão as escolhas e possibilidades de crescimento.

Os modelos económicos que moldaram as politicas que nos conduziram à crise falharam rotundamente ao não incorporarem nas suas premissas variáveis incontornáveis quando se pensa em desenvolvimento e sustentabilidade. A biodiversidade e os ecossistemas desempenham um papel decisivo (directa e indirectamente) no que diz respeito ao bem estar social e ao crescimento económico.

A qualidade de vida das populações e a sua prosperidade estão inexoravelmente ligadas às funções, bens e serviços fornecidos pelos ecossistemas e biodiversidade. Contudo, os modelos económicos e as próprias contabilidades públicas dos países não consideram esta variável de forma explícita. E, não o fazendo, limitam sobremaneira a integração desta variável na moldura politica que determina as decisões sobre o uso dos recursos, a ocupação e ordenamento do território, a gestão da água.

A não integração deste reconhecimento e desta contabilidade na formulação das politicas é uma grave lacuna cujas consequências se traduzem, mais tarde ou mais cedo, em enormes custos económicos, na perda de capital natural e, inevitavelmente, na qualidade de vida das pessoas.

António Domingos Abreu

Biólogo

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